O desabamento de um prédio de quatro andares poderia ter se transformado em uma tragédia, não fosse o alerta emitido por uma das inquilinas, que trabalhava em uma oficina mecânica com o marido no térreo.
Foi de Neila Lara Baragchum a ligação para o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) alertando sobre a possibilidade de o prédio em Taguatinga (DF) desabar a qualquer momento. Ela foi responsável por salvar a vida de mais de 50 famílias.
A mulher de 50 anos conta que chegou a ser chamada de "louca". Em entrevista ao Correio Braziliense ela disse que sentiu uma sensação ruim horas antes da tragédia.
Na quarta-feira (5/1), um dia antes de o prédio desabar, Neila estava de cama em casa, em Samambaia Norte, por conta das fortes dores causadas por pedras nos rins e não foi trabalhar.
Casada com Rabib Baragchum, 64 anos, a mulher diz que na quinta-feira (6), mesmo sentindo-se mal, decidiu acompanhar o marido no trabalho. Por volta das 7h30, quando Rabib abriu a oficina, percebeu que pedaços de cimento caíram ao chão.
"Senti um incômodo grande e falei para o meu marido que não queria ficar lá dentro para morrer com meu neto, pois Deus havia falado em meu coração que o prédio ia cair", relata.
Rabib não acreditou nas palavras da mulher e disse que um prédio daquele não iria cair dessa forma tão rápido. O empresário, então, pediu para que Neila acionasse um transporte por aplicativo e voltasse para casa. "Ela disse que não iria embora, que era minha esposa e que tinha que ficar comigo onde eu estivesse. Foi quando ela falou que iria chamar os bombeiros, e eu disse para fazer o que achasse melhor", confessa Rabib.
Pedido de socorro
Por volta das 8h, Neila saiu da oficina e acionou o Corpo de Bombeiros. Após várias tentativas, a empresária conta que a equipe pediu para que ela enviasse um e-mail para a Defesa Civil informando sobre a situação. "Por fim, eu retornei a ligação para os bombeiros e disse que era urgente, quando eles perceberam o desespero por meio da minha voz, entenderam a gravidade do assunto. Por volta das 11h30, eles chegaram e interditaram o prédio. Foi um sinal", disse a empreendedora, que é evangélica.
Os militares fizeram uma avaliação no prédio e constataram inúmeras rachaduras. A Defesa Civil chegou em seguida e deu a ordem para que todos os moradores saíssem dos apartamentos imediatamente.
"Eu fiquei muito assustado e, ao mesmo tempo, arrependido por não ter dado ouvidos à minha esposa. Quando vi o prédio sendo evacuado, perguntei se eu poderia tirar um equipamento de um cliente de dentro da oficina, mas não deixaram e mandaram eu sair às pressas. Quando estávamos do lado de fora, apontei o dedo para mostrar uma rachadura ao técnico. Quando abaixei o braço, vi o prédio desmoronar", lamenta Rabib.
"Nós perdemos tudo, mas o Senhor nos deu uma nova oportunidade. Foi isso que aconteceu com cada um", desabafa Neila, emocionada.