Evangélico que perdeu filho prega a sobreviventes em Petrópolis: “Deus me mantém de pé”
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Publicado em 03/03/2022

As chuvas que provocaram uma tragédia em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, já deixaram 232 mortos até esta quarta-feira (2). Entre as pessoas em luto está Alex Sandro Condé, um homem cheio de fé, que decidiu colocar sua esperança na eternidade com Deus.

Todos os dias, Alex, de 42 anos, sai do abrigo onde está vivendo desde que os deslizamentos de terra devastaram o Alto da Serra, onde ele morou a vida toda. Enquanto caminha nas ruas, ele vai até seus vizinhos para colocar a mão no ombro, oferecer um abraço, uma palavra amável ou um conselho espiritual. 

Evangélico, Alex diz que recebeu de Deus a missão de oferecer conforto, compaixão e assistência aos outros. Fortalecido por sua fé e pela Palavra de Deus, ele tem buscado ajudar a curar a comunidade.

“‘Quem você ver precisando de ajuda, vá e ajude. Estou mantendo você de pé’”: foi o que Deus disse a Alex, ele contou à Associated Press. “Deus está me dando as palavras certas para levar encorajamento a todas as pessoas que precisam.”

Um dia, cerca de uma semana após o deslizamento, Alex estava andando pelas ruas quando se deparou com um homem sem camisa, que ele conhecia. Eles haviam perdido um amigo em comum, e Alex o abraçou. 

Do outro lado da rua, Alex viu outro homem, Adalto da Silva. No dia do deslizamento, Adalto estava com o filho de 21 anos quando a lama os pegou. O filho foi levado para longe. Na ladeira, a esposa de Adalto tentou manter sua filha de 6 anos segura entre as pernas, mas seus corpos foram encontrados na lama, ainda juntas.

Alex sentou Adalto em uma cadeira, depois se ajoelhou diante dele e segurou seus ombros. Eles conversaram por um longo tempo, olhando nos olhos um do outro, e Alex disse que sentia sua dor. 

Alex é incansável e está sempre em movimento, apesar dele também partilhar da mesma dor.

Sobrevivente de uma tragédia

Alex trabalhava em uma estamparia na rua dos Ferroviários, no Alto da Serra, que desabou e deixou cinco mortos no local. Na tragédia, Alex perdeu três pessoas importantes: o filho Kaíque, de 18 anos, o irmão Ivan, de 34, e o amigo de infância Thiago, de 35.


Desastre em Petrópolis deixou 232 mortos. (Foto: TV Brasil)

Eles estavam todos juntos na oficina no dia em que, em apenas três horas, Petrópolis registrou a chuva mais intensa em 90 anos. Quando o temporal diminuiu um pouco, Alex correu para casa. Kaíque ficou na estamparia, assistindo futebol no celular com o tio.

Em casa, Alex ouviu um estrondo, que foi ficando mais alto e mais próximo. O telhado de metal começou a chacoalhar, e ele correu para fora. Uma parede de terra se aproximava dele carregando troncos de árvores, pedras, telhados e vergalhões. Alex se agachou e se preparou, pensando: “Vou morrer enterrado”.

A torrente, porém, passou a poucos metros de sua casa. Quando conseguiu, Alex correu para a oficina e descobriu que a estamparia também havia sido engolida pela lama. Dois dias depois, os bombeiros retiraram o corpo de seu filho.

Fé em meio ao luto

Mesmo desabrigado e vivendo o luto, Alex está de pé, fortalecendo as vítimas da tragédia e visitando outros abrigos. “Todos os dias venho aqui ajudar”, disse. “Não posso ficar no abrigo (onde está a família dele). Lá, vou começar a lembrar do meu filho.”

Nos preparativos para o enterro, Alex foi consolado por lembrar que Kaíque havia obedecido aos mandamentos de Deus e crê que o filho recebeu a salvação. 

Elisângela Gomes, representante do serviço funerário, comentou o quanto ficou impressionada com a força de Alex — que, para ela, vinham de sua “fé, orações e vontade de ajudar os desamparados”. “Não havia ninguém tão confiante em Deus quanto o Alex”, disse.

Na noite seguinte ao enterro do filho, na casa de um amigo, Alex diz que sentiu a presença de Deus e chorou profundamente. Para ele, as lágrimas serviram “para lavar a alma”.

Alex levou seu filho mais novo, Piter, de 14 anos, de volta ao Alto da Serra pela última vez. Ele queria que o menino visse as consequências do deslizamento e onde Kaíque havia morrido.

Eles se depararam com uma mulher carregando um colchão, e Alex não perdeu a oportunidade — ele colocou a mão no braço dela e disse: “Aqueles que forem batizados serão salvos”, a exortando a buscar forças em Deus.

“Meu Deus está me mantendo de pé. Ele é muito forte”, disse Alex a mulher. “E quem sou eu para questionar a soberania de Deus? Eu, um mero mortal, que Ele colocou aqui, e vou reclamar ou questionar o que Ele fez? O que o crente precisa ter é a certeza da salvação”.

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