A preocupação da esquerda política com a influência dos evangélicos nas redes sociais tem crescido de forma avassaladora, tanto que alguns, na tentativa de rotular o segmento, têm cometido erros grotescos. Um deles foi repercutido pelo portal de notícias UOL.
Trata-se de uma declaração do antropólogo e pesquisador Flávio Conrado. Ele afirmou à coluna de Carlos Madeiro que “há dez anos, não havia portal de notícias evangélicas”, o que é absolutamente falso!
O portal GospelMais, por exemplo, iniciou as suas atividades em 2006, portanto, há 16 anos, sendo um dos maiores do Brasil neste segmento.
É possível cogitar, com isso, que o desejo de querer associar os sites de notícias gospel ao atual movimento político conservador, parece ter como objetivo a demonização de um trabalho sério de cunho jornalístico, a fim de desacreditá-lo.
Essa percepção fica mais evidente quando Conrado contextualiza a sua desinformação: “Hoje você tem uns 20 portais de notícias. Isso tem a ver com a ideia de retroalimentar esse campo da indústria cultural gospel, de produtos variados. Há um investimento, e esses conteúdos vão chegar ao público pelo WhatsApp.”
O “campo da indústria cultural gospel”, dito por Conrado, foi associado na matéria do UOL ao que retrataram como suposta teoria do “pânico moral”. Isto é, os evangélicos estariam usando pautas sobre valores e costumes para imprimir o medo na população.
Se referindo de forma especulativa a figuras evangélicas de influência, como pastores e a primeira-dama Michelle Bolsonaro, Madeiro diz que, segundo Conrado, “esse grupo evangélico trabalha esse conceito [“pânico moral”] há muitos anos e mantém um número alto de seguidores ativos e de diferentes denominações evangélicas.”
Já em outra citação de Conrado, a coluna do UOL também repercutiu mais desinformação ao fazer parecer que a preocupação dos evangélicos com a ideologia comunista é fruto de mera imaginação, e não de fatos concretos tão bem registrados na história.
“Todos esses temas apareceram na lógica do ‘pânico moral’, do discurso de que ‘eles querem acabar com a família’. O tema da liberdade religiosa é caro para os evangélicos. No imaginário deles, a esquerda é comunista e associada ao ateísmo. Então surge o discurso de que vai fechar as igrejas”, disse o pesquisador.
A realidade
A preocupação dos evangélicos com os partidos de esquerda no Brasil não é fruto do “imaginário”, como grosseiramente sugere Conrado. Ela parte de fatos, por exemplo, repercutidos pela organização Portas Abertas, que anualmente publica a sua lista mundial de perseguição religiosa.
Em países como China, Coreia do Norte e Cuba, todos controlados por regimes comunistas, os cristãos sofrem intensa perseguição, tendo as suas atividades religiosas restritas ou mesmo proibidas, assim como igrejas fechadas.
É fato notório, também, que na Nicarágua atual, onde o regime esquerdista de Daniel Ortega domina, igrejas estão sendo fechadas e líderes religiosos perseguidos. Em novembro de 2021, aqui no Brasil, o Partido dos Trabalhadores (PT), que agora disputa a eleição presidencial, chegou a celebrar o governo vizinho.
Com base nesses exemplos e em inúmeros outros ligados à esquerda, portanto, é possível concluir que a reação dos evangélicos no Brasil não tem qualquer relação com a vontade de disseminar “pânico moral”.
Se trata, isto sim, de uma preocupação legítima, cuja vontade é precaver a população cristã contra a possível ascensão de um regime perseguidor, autoritário e vingativo, o qual já parece determinar a pauta de algumas das principais redações jornalísticas do país.